LANÇAMENTO DE CONTO CAPIXABA 2024 - "O Bem-Te-Vi do Paraíso e o Resgate dos Irmãos de Yan"
Título: "O Bem-Te-Vi do Paraíso e o Resgate dos Irmãos de Yan"
Autor: @PedrimPescador
Nome: Pedro Henrique Serrano Léllis
Escrito em: Jun/2023 - CTLV - Retiro do Congo, Vila Velha/ES
SINOPSE:
Yan e seus irmãos foram sequestrados por um bando de cavaleiros armados que fizeram isso como forma de vingar a morte de seu eterno líder Dal-Vidar.
Yan porém conseguiu fugir, lançando-se de um despenhadeiro e caindo em um rio de águas geladas. Yan era o filho mais velho de um total de 7 irmãos, que viviam no Sul da Ásia, em um tempo muito remoto.
Naquela época, os "índios" de sua tribo empreendiam uma viagem de aventura ao completar 21 anos, para retornarem muitos anos depois trazendo conhecimentos de outras tribos longínquas. Yan se lançou na sua Jornada do Herói com o objetivo de um dia resgatar seus irmãos, aqueles que permanecessem vivos.
Perdido na floresta um Anjo apareceu para Yan e o indicou um caminho até o Bem-Te-Vi do Paraíso, pois Deus viu a intenção de seu coração de dar, Yan, a sua própria vida para salvar seus irmãos. E o que aconteceu depois disso?
Será que Yan conseguiu salvar seus irmãos da escravidão?
E o Bem-Te-Vi do Paraíso? Que ave é essa e
como poderia ajudar Yan?
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LEIA O CONTO NA INTEGRA
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Capítulo 01 – O Atentado
Era uma
segunda-feira de manhã, antes ainda do Sol despontar seus primeiros raios,
quando Jin encontrou o corpo daquele homem desconhecido totalmente
ensanguentado, ralado, com as vestes aos trapos, resultado do ataque fatal do
cão-de-guarda Ras em defesa do território de sua família.
Durante a
madrugada anterior, Jin acordou ao som dos ecos dos latidos de Ras pelo vale e
os gritos de desespero de alguém. Temeu Jin pela vida de quem quer que tivesse
adentrado sua propriedade pois Ras era um cão-de-guarda muito agressivo com
qualquer que fosse o desconhecido, apesar de para com a família ser
extremamente dócil e brincalhão.
Jin retornou
para casa e pediu a ajuda de seus filhos mais velhos Yan e Lee para colocarem o
corpo do velho e gordo homem em um tipo de carrinho-de-mão para dar ao menos um
enterro honroso ao desconhecido senhor.
Vindo do pomar
com seus filhos, Ale, a esposa de Jin ficou curiosa para saber o que
transportavam em plena segunda-feira tão cedo, sendo que na sexta-feira, sim, é
que era o dia de se abater animais para comercializá-los na vila de Jadar, um
vilarejo de cerca de 20 mil pessoas, centro administrativo das muitas fazendas
e propriedades daquela inóspita e isolada região.
Tendo
terminado de servir um mingau de aveia na mesa de jantar para seu filho mais
novo Lun, Ale saiu da cozinha pela porta dos fundos e foi ao encontro de seu
marido.
Ao
aproximar-se e perceber braços e pernas pendulando para fora do carrinho,
assustou-se e, ao confirmar de que se tratava do corpo de um homem morto, ficou
horrorizada com o estado deplorável com que este se encontrava.
Jin
a abraçou e disse:
- Não temas,
querida. Mas parece que Ras atacou este homem.
- E o que ele
veio fazer aqui? Nunca o vi antes.
- Também não
sei meu amor, mas vamos leva-lo ao vilarejo para ver se identificamos seus
familiares. Vamos dar um banho nele e envolve-lo em lençóis, pois não temos
roupas limpas que sirvam nele, pois é muito gordo. Possivelmente é um viajante
que se perdeu, veja como está vestido! E a insígnia que carrega em seu cordão
no pescoço não é de nenhuma das famílias do vilarejo. Não aparenta ser uma
pessoa de má-índole. Pena que tenha morrido desta forma tão drástica. Que Deus
receba a sua alma no paraíso das almas eternas.
Jin e seus
filhos mais velhos despiram o velho homem e lavaram seu corpo do sangue. Aos
poucos as outras crianças filhas de Jin (ele tinha um total de sete filhos,
sendo cinco meninos e duas lindas princesas) saíam da cozinha após terem tomado
seu mingau e se aproximavam curiosas para saber o que seu pai e seus irmãos
mais velhos faziam, mas sua mãe Ale, percebendo que as crianças rondavam o
corpo do gordo homem, as recolheu para o interior da casa e disse:
- Venham
crianças, deixem a alma deste pobre homem em paz. Cada um para dentro, já, e
cada um para seu trabalho, pois já tomaram o café. Hoje é o dia de quem lavar
as louças?
Jin era um
homem simples porém próspero. Morava numa casa grande que ele mesmo construiu
ao longo da vida, toda de madeira decorada com tapeçarias rudes e móveis de
bambú, feitos por ele mesmo, arte esta que desenvolveu após ter passado alguns
anos a leste dos países orientais, por ocasião da comemoração de sua
maioridade, aos 21 anos, como todo homem de sua tribo deveria fazer: sozinho, a
cavalo, para algum lugar distante do mundo, com a finalidade de retornar para
sua tribo trazendo tecnologia e invenções de outros povos distantes.
Casou-se com
Ale na terra da sua peregrinação e escolheu Jadar para viver e constituir
família. Ale apaixonou-se por Jin por ele se parece com um finado irmão que
tinha. Era magro, de média estatura, cabelos negros, escorridos e lisos, olhos
puxados, nariz e boca afinalados, queixo delineado. Encantou-se pelo fato de
ser peregrino e, uma vez aprendido o básico da língua local, falava com sotaque
e não sabia conjugar os verbos. Para complementar sua comunicação, gesticulava
intensamente tentando se expressar e sorria bastante quando não conseguia ser
compreendido, exibindo os alinhados dentes brancos e quase desaparecendo os
seus olhos ao sorrir, de tão finos e esticados que eram.
Ale era
encarregada de cuidar das crianças em sua tribo, contando histórias infindáveis
sobre lutas, guerras, conquistas e heróis de exércitos cujas armas eram feitas
de bambu.
A família de
Jin era muito bem estruturada. Atribuíam às crianças, desde tenra idade,
pequenas responsabilidades no trato do lar e eram muito bem educadas, ensinadas
a respeitar os próximos, a natureza, a Divindade, os bens e ferramentas da
propriedade, zelo para com as criações de animais que lhes forneciam carnes,
gorduras, couros e chifres, além de serem terminantemente proibidas de entrarem
no jardim secreto cuidado por Ale, pois entre as flores haviam plantas e sapos
altamente tóxicos, cultivados para envenenar as armas de caça da família, uma
cultura que a relembrava dos tempos em que na propriedade só havia um quarto de
madeira, um banheiro no meio da mata e um fogão à lenha improvisado com pedras
e rochas empilhadas.
Lavado o corpo, Levi, o terceiro filho homem do casal, preparou as celas dos cavalos e a carroceria que transportaria o corpo do homem morto até o chefe de Jadar, no intuito de devolvê-lo à sua família, caso fosse do vilarejo.
Apresentado o
corpo ao chefe do vilarejo, este não o reconheceu, assim como os outros quatro
sacerdotes religiosos convocados, nem a insígnia do brasão da família que
ostentava ao pescoço, fazendo com que Jin se comprometesse a retornar com o
corpo para sua propriedade e enterrá-lo com honra, como forma de pedir
desculpas pelo fato de Ras, seu cão-de-guarda, ter-lhe tirado a vida.
Centro
comercial que era, era comum as pessoas transitarem pelas ruas de Jadar em
busca de itens de colecionador para adornar suas casas e servir de motivo de
orgulho para convidarem vizinhos para admirarem os tais itens adquiridos,
tamanha curiosidade natural daquele povo que valorizava pertences únicos e
exclusivos de decoração.
Um homem
maltrapilho perguntou a Jin o que transportava em sua carroceria e se estava à
venda. Gentilmente Jin explicou a situação, o que fez com que o transeunte se
aproximasse para ver o rosto do homem.
Ao
reconhecê-lo como chefe de um bando de criminosos que roubavam em nações
vizinhas e se escondiam em Jadar devido à sua boa-fama entre as nações, o
maltrapilho permitiu-se perceber, pelas suas feições faciais, que reconhecera o
homem, levando Jin a perguntar:
- Você conhece
este homem? Estamos procurando sua família para entregá-lo.
Dissimuladamente
o maltrapilho respondeu:
- Aguarde aqui
que já vou trazer seus parentes.
Cerca de
quarenta minutos depois, Jin e seus filhos Yan e Lee foram cercados por um
sem-número de homens bem vestidos, montados a cavalo, todos armados, muitos
deles fumando, barbados (o que era sinal de pessoas fora-da-lei) e gritando Iá-iá.
Um após o
outro iam desmontando de seus cavalos e aproximavam-se da carroceria de Jin,
erguendo altos lamentos e palavrões, indignados e injuriados com o que viam: o
corpo inerte e sem vida, duro e frio, dilacerado, de seu líder Dal Vidar,
excelso e adorado líder.
Questionaram a
Jin onde o encontraram e em que condições. Caso lhes mentisse, tirariam a vida
de seus dois filhos, que foram imobilizados e tiveram a linha-de-corte de
facões pressionados com força contra seus pescoços.
Apavorado e
sem reação, Jin contou-lhes toda a verdade e que o chefe deles havia sido morto
por seu cão. Decidiram os homens que iriam até sua propriedade para vingar a
morte de seu líder.
Ao ver tantos
homens barbados cavalgando com seus facões em exibição para o alto e gritando Iá-iá,
como que uma terrível intuição descera ao entendimento de Ale e um grande pavor
tomou conta de seu coração.
Os homens
decidiram destruir a casa de Jin e levar seus sete filhos para serem escravos
em longínqua mina de sal mineral e, com o objetivo de não deixar rastros nem
quem pleiteasse uma guerra para resgatar as crianças, tiraram a vida de Jin e
Ale, degolando-os e aspergindo tenebrosamente o sangue quente sobre as
assustadas e assombradas crianças.
Tendo saqueado
os itens de valor da casa de Jin, quebraram tudo quanto foi possível e
retiraram-se dizendo que olho por olho, dente por dente, o sangue de seu chefe
Dal Vidar fora vingado e que o cachorro que o matara e que por ocasião estava
preso e não parava de latir, morreria de sede e fome.
E assim se
foram, levando as crianças cativas, deixando a casa destruída, abandonando os
corpos de Jin e Ale à decomposição fétida, como se fossem pessoas sem honra,
sem sentimentos, sem sonhos, sem história, sem valor.
Capítulo 02 – A Fuga
Yan e seus
irmãos foram amarrados, amordaçados e transportados individualmente,
ensacolados, debatendo-se, chorando histericamente, totalmente tomados por
assombro e temor, totalmente traumatizados pela forma brutal e injusta com que
seus amorosos pais foram assassinados, não esquecendo e mais ainda impactados
pelo fato de terem sido banhados com sangue quente, fazendo-os imaginar a todo
momento que também seriam brutalmente assassinados.
O galopar dos
cavalos permanecia viril e constante. O tempo passava e os cavaleiros
silenciaram-se. Ordenaram às crianças que se calassem e ficassem calmos, assim
males maiores não recairiam sobre elas. Era como se as crianças também se
entregassem, já cansadas de tanto relutar.
Pelo balançar
dos cavalos perceberam que não seguiam pelas estradas, e sim por um caminho
irregular, talvez composto por pedras em desnível e recheado de galhos, devido
o som dos estalos dos seus trincar, ao serem pisoteados pelos cavalos.
Depois de
algumas horas de silêncio, já envolvidos pelo breu, os cavalos pararam e uma voz
ordenou:
- Tragam as
crianças para este quarto e não as retirem dos sacos. Vamos deixa-las assim,
com fome e sede. Que se f*&%, elas não vão morrer de um dia para outro.
- O que vamos
fazer com elas? (Uma voz perguntou.)
- Vamos
leva-las para as minas de sal, junto com os outros escravos. E lá vão trabalhar
para sempre. Elas que se f*&%. O cachorro delas matou nosso venerado líder.
- Mas os pais
delas já foram mortos...
- E eu com
isso? Você quer que a tribo dos índios caçadores venha atrás de nós? Eles usam
sarabatanas envenenadas e eles são certeiros. Uma agulhada no pescoço e você
vai morrer sem conseguir pedir ajuda, duro como pedra. E você vai morrer de
olhos abertos, pedindo para viver mais um dia. Eu que não vou te enterrar. As
hienas vão disputar sua carne e você vai ser dilacerado vivo. Vamos ganhar
muito dinheiro com elas.
- Porque não
as vendemos ao longo do caminho? (Outro cavaleiro do bando perguntou.)
- Cala a sua
boca. Sou eu que mando nessa des*&%. Você quer deserdar do bando e morrer
de pauladas? (O outro calou-se.) Então faz o que eu mando e vai se f*&%.
Não havia
nenhuma das crianças em paz. Apesar de terem se calado e, sentindo as dores dos
socos que receberam ao longo do caminho, conformaram-se do infortúnio que lhas
sucedera.
Yan estava
prestes a completar vinte e um anos. Pensava que não poderia participar do seu
ritual de passagem para a vida adulta. Por muitos anos questionou-se acerca de
qual direção tomar para empreender sua jornada. Norte, sul, leste ou oeste? Por
quantos dias viajaria e qual nação desconhecida adotaria para aprender seus
costumes e tradições para retornar com honra?
Como irmão
mais velho dos agora órfãos, sentiu-se na responsabilidade de assumir a liderança
da família e salvar as crianças do futuro escravagista. Sozinho ou acompanhado
de seus irmãos, eles jamais teriam força contra aquele imenso bando armado para
liderar uma rebelião.
Ficou
arquitetando em sua mente uma solução plausível para salvar seus irmãos.
Considerando em seu coração todas as possibilidades para alcançar sucesso em
seu intento, concluiu que deveria lançar-se em sua jornada do guerreiro
indígena sozinho e que, ainda que durasse toda sua vida e trabalhasse como um
jumento de cargas, só regressaria à sua terra natal com seus irmãos sãos e
salvos.
Somente o
trabalho dignifica o homem e como se tornara o líder da família, ele deveria
ser o responsável pelo resgate de seus irmãos.
Aquela noite
foi fria, seca, abafada, enclausurada, um verdadeiro cárcere privado. Com fome,
frio, sede, molhados pelo sangue que, como cola, aderia aqueles sacos em seus
corpos, um misto de todas as emoções tenebrosas perfaziam as mentes das
crianças. Não sabemos a quantas horas, mas o certo é que todas elas adormeceram
exaustas, exceto Yan, que não desligava por nem um segundo.
No dia
seguinte os criminosos do bando tiraram as crianças dos sacos, alegando que
tudo será melhor se elas fossem obedientes e comportadas. Retirando-as dos
sacos, mas sem desamarrar suas mãos e pés, as alimentaram e dessedentaram,
passando instruções, ordens, comandos e todas as possíveis ameaças, mantendo um
verdadeiro gentil terror psicológico.
Acreditaram
que todos os cavaleiros do bando estavam ali reunidos. Uns fumando, outros afiando
seus facões, outros engordurando com banha suas botas e praticamente nenhum
deles fitando as crianças nos olhos.
Yan levantou
uma das mãos, como que pedindo oportunidade para falar, o que lhe foi
concedido.
- Se fizer
alguma besteira, eu corto sua língua.
- Posso falar
com meus irmãos?
- Pode. Mas eu
estou monitorando tudo.
- Crianças,
fiquem tranquilas. Vai dar tudo certo. Vamos fazer tudo que eles pedirem.
- Só faz o que
a gente manda, só falem se a gente deixar e nenhum dedinho de vocês será arrancado.
- Vocês vão
matar a gente? (Perguntou Hill, um dos irmãos mais novos de Yan.)
- Ninguém
deixou você falar. Você quer que eu arranque um dente seu?
E Hill começou
a chorar.
Esse homem do
bando se aproximou e todos os irmãos temeram. Mas ele afagou Hill e o acalmou:
- Calma neném,
não vamos machucar vocês. Pelo contrário, vocês serão muito bem tratados, basta
ser um bom menino. Chegando nas minas de sal vocês vão ser recebidos com uma
farta mesa de guloseimas e vocês vão ajudar a gente a ganhar dinheiro. Vocês
não passarão fome poderão até brincar e se divertir! (Falou o bandido com ar de
ironia.)
- Cale a sua
boca, seu burro. Pare de falar baboseiras. Essas crianças vão se f*&% pra
sempre naquele inferno. (Disse outro sequestrador.)
- Se liga,
hora de levantar acampamento. (Disse outro ainda.) São sete crianças, então na
viagem vão ser 10 cavaleiros que vão atravessar a floresta, as montanhas e o
deserto. Vocês serão levadas por nós como se fossem nossos filhos e se alguém
fizer alguma pergunta a vocês, vocês devem permanecer calados, se não eu mato
vocês um por um e o filho da p*&% que estiver perguntando de mais. A viagem
vai ser longa e vão não vão viajar sujas e descabeladas. Quero todo mundo bem-comportado
se não a gente vai f*&% com vocês e eu mesmo vou ter o prazer de arrancar
seus olhos e dentes. Velho cachaceiro, tranque as crianças no banheiro e
deixe-as tomar banho e lavar suas roupas. Meio dia em ponto almoçamos e
partimos. Até lá Redi já vai ter trazido os queijos de Jadar para vocês comerem
alguma coisa durante a viagem. E sem gracinha ou todo mundo morre.
Apesar de
serem maus, os criminosos demonstraram um mínimo de código de conduta,
hierarquia e obediência. Eram bem organizados e cada um sabia sua função.
Eram errantes
deserdados de suas tribos. Homens derrotados que por fim se incumbiram de
alguma coisa para fazer para se manterem vivos, mesmo que fossem impiedosos com
quem saqueavam e projetaram várias trilhas secretas por meio de vales, riachos,
pastos e florestas para que seus crimes fossem praticados sem rastros e sem
riscos de sucumbência para a organização.
A viagem de
traslado para as minas de sal durou dias a fio. Fizesse sol ou fizesse chuva,
andavam lentamente para preservar os animais, cada cavaleiro com uma criança,
cada qual amarrada com uma corda em suas cinturas para evitar que fugissem.
Eram poucas as paradas, sempre ocorrendo no interior de matas fechadas, antes
do sol se pôr, de preferência próximas a riachos, brejos ou lagoas,
oportunidades em que os cavaleiros aproveitavam para se banhar e dessedentar os
animais. Pedaços de queijo eram racionados e administrados para as crianças.
Nada que de fato alimentasse, mas que pelo menos enganasse a fome.
Yan observava
tudo, todos os movimentos dos cavaleiros, procurando sempre um vacilo ou brecha
para que pudesse sumir da vista deles sem que percebessem, e temendo sempre que
sua ousadia custasse a vida dos seus irmãos.
Depois de
muitos dias de viagem, já tendo saído da floresta e trotando por íngremes
despenhadeiros montanhosos, Yan pediu para a caravana parar para que pudesse ir
ao banheiro. Acompanhado pelo seu cavaleiro pediu-lhe ao pé-do-ouvido que o
desamarrasse para que tivesse um pouco de privacidade para defecar,
argumentando que sofria de prisão de ventre e precisaria de um pouco mais de
tempo para evacuar bastante e não interromper novamente a viagem; que não teria
como fugir pois o caminho era estreito: à frente e às costas estariam outros
cavaleiros, à esquerda havia um paredão rochoso qual não poderia escalar e à
direita havia um precipício que, se nele caísse, não sobreviveria. O cavaleiro
consentiu, acendeu um cigarro e o deixou descer alguns patamares de rocha.
Do meio da
vegetação Yan começou a gemer e fazer, com a boca, sonoros puns e entre um
gemido de alívio e outro pum, percebeu a chance de empreender fuga, saltando em
direção ao vazio, tendo por alvo um longo cipó que agarrara com todas as suas
forças mas que, revestido por limo escorregadio, o fez descer em alta
velocidade muitos metros abaixo, sendo tomado por uma alta descarga de
adrenalina, Yan pensou ter sido este um salto para a morte.
Quando acabou
a extensão do cipó, Yan foi caindo sobre galhos e rochas e espinhos e mais
rochas, rolando como uma bola de neve, sem controle nenhum dos movimentos e
caindo por fim nas águas de um rio que nem mesmo lá de cima poderia ser visto e
que nem ele mesmo imaginava ser possível de ali haver.
As águas eram
tão geladas que Yan sentiu o frio penetrar sua pele como uma miríade de agulhas
a espetar e o seu desespero passou a ser sair de dentro do rio antes que a
hipotermia enrijecesse seus músculos, o impedindo de nadar.
Já na beira do
rio, olhou para cima e já não havia rastro algum da caravana pois a vegetação
impedia de ver acima.
Despindo-se
totalmente de suas roupas e as estendendo-as para secar sobre a margem de
pedras de seixo, apalpou todo o seu corpo em busca dos ferimentos adquiridos,
espinhos encravados e possíveis ossos quebrados. Tendo verificado estar tudo
bem consigo apesar dos arranhões e ainda tremendo de adrenalina e medo, pôs uma
das mãos na cabeça não acreditando na loucura que fez e levantou um clamor ao
Deus Altíssimo para que os cavaleiros não retaliassem seus irmãos.
Perdido no
meio do nada, sem imaginar onde estava pois nunca tinha saído dos limites de Jadar,
entendeu ser possível seu plano de resgate e mesmo não tendo completado vinte e
um anos de idade, iniciava-se ali a sua jornada de guerreiro indígena.
Pedro Henrique
Serrano Léllis,
@Pedrim Pescador, (Siga-me).
Edição Final e Publicação Online em 24/04/24.
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Título: "Na Terra da Aflição Morreu Esperança"
Autor: @PedrimPescador
Nome: Pedro Henrique Serrano Léllis
Escrito em: Mar/2016 - Praia de Itaparica, Vila Velha/ES
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